Qual é o melhor remédio para parar de fumar?

O remédio para parar de fumar. Por que as pessoas fumam? Por que o hábito de fumar é prejudicial? O preconceito contra quem fuma.

Muitos pacientes e acompanhantes já me perguntaram: “Doutor, qual é o melhor remédio para parar de fumar?”. Se a resposta fosse simples, certamente o número de casos de câncer associados ao cigarro seria menor.

Remédio para parar de fumar
Remédio para parar de fumar

Antes de comentar sobre o tratamento contra o tabagismo, precisamos entender alguns conceitos. A começar pelo motivo que leva as pessoas a fumarem.

Por que as pessoas fumam?

Qual a causa do tabagismo? Tabagismo é uma doença? Por isso precisamos de um remédio para parar de fumar? Quem fuma está doente? Bom. São perguntas que precisam ser feitas.

O hábito de fumar é um tipo de vício. E como todo vício, ele é movido por uma deixa (algo que fez iniciar o hábito) e uma recompensa (a sensação de prazer que motiva a perpetuação do hábito).

Em outras palavras, o cigarro traz uma sensação imediata de prazer (é o efeito que a nicotina causa no corpo). Mas essa sensação é muito rápida. Logo, para aliviar a tensão do dia-a-dia ou mesmo para perpetuar a sensação de prazer, quem fuma geralmente faz uso de várias unidades de cigarro.

Agora… De onde veio esse vício?

Diversos fatores contribuem para o início do tabagismo. Vou citar os três que considero mais importantes.

  • Fatores ambientais – Os trabalhadores na roça começam desde criança a usar o cigarro como ferramenta para “espantar os mosquitos”. Com o passar do tempo, o vício se mantém já que, mesmo sem os mosquitos, aquela sensação de prazer torna-se necessária.
  • Fatores sociais – Nós, humanos, temos a necessidade de fazer parte de algum grupo e, em alguns casos, o hábito de fumar já faz parte desses grupos, em especial entre os jovens. Podemos citar também os ambientes familiares com fumantes em casa. Nessas famílias, o exemplo dos mais velhos conduz os mais jovens ao vício.
  • Fatores patológicos (doenças) – Ansiedade, depressão, esquizofrenia, transtorno bipolar… Muitas das doenças mentais provocam o hábito de fumar e outros hábitos ruins também.

Então, não… Não necessariamente quem fuma está doente. Às vezes, quem fuma o faz para cobrir algum buraco em sua vida. Uma forma de ter uma “felicidade instantânea”. O problema é que essa alegria falsa é a principal causa de câncer de pulmão e de laringe, além de causa importante de doença pulmonar crônica, além de inúmeras outras doenças. Ou seja, a breve felicidade que o cigarro traz pode matar.

O sr José e o seu cigarrinho…

Para exemplificar o que falei acima, veja a história do sr José (nome fictício para um paciente real).

O Sr José, mais uma vez, acordou bem cedinho e passou aquele cafezinho bem torrado. O cheiro temperou o ar daquele sítio, no qual já morava há mais de 50 anos.

Ainda cedo, ao cantar do galo, antes do sol nascer, ele foi para o curral. Como de costume, acendeu aquele cigarrinho no caminho. Ordenhou suas oito vaquinhas, separou o leite para o consumo dos netos e com o restante preparou dois belíssimos queijos.

Antes de cuidar das criações, José fumou outro cigarrinho. Como estava cedo e tinha adiantado o trabalho, arranjou tempo para tragar mais dois, enquanto conversava com o vizinho.

Um pouco mais tarde ele foi ao canavial. Estava na hora de cortar a cana, para mais tarde triturar e alimentar o gado. O canavial fica à beira de um belo e tranquilo riacho. No entanto, isso fazia com que não faltassem mosquitos, todos os dias. Quatro cigarros a mais foram necessários para deixar o trabalho mais favorável. Às 11h da manhã, José tinha acabado aquele trabalho e foi para casa.

À tarde, depois de um farto almoço e do prazeroso “quilo”, José não poderia deixar de tomar aquele apreciado cafezinho. Claro que seguido do cigarrinho de palha pós prandial.

Depois do descanso, mais trabalho… Era hora de capinar a sua pequena plantação de mandioca. Trabalho simples, mas pesado para um senhor de 70 e poucos anos. Ainda mais sem a ajuda dos filhos que há tempo já tinham seus próprios trabalhos. As mais que merecidas pausas eram sempre acompanhadas de um “pito” que guardava no bolso.

Já era noite e José voltou para casa, fumando o último cigarro da caixinha.

Há 50 anos, José mantinha praticamente a mesma rotina. As duas ou três caixinhas de cigarro e os fumos de palha já eram mais que rotina. Infelizmente, hoje José é vítima de um câncer causado por aquilo que parecia inofensivo na época: o hábito de fumar.

Todos conhecemos um Sr José. Gente como ele levantou o Brasil com a força dos braços. Tudo que ele não precisa é de julgamento. José não deve nunca ser repreendido ou discriminado por ter fumado.

Pessoas como o Sr José precisam ser lembradas e consideradas. Precisam de cuidado. Precisam do nosso apoio. Precisam de informação.

O cigarro é uma infeliz pedra no caminho.

É Sr José (e não o cigarro) que é o meu paciente.

Por que o hábito de fumar é prejudicial?

Como eu disse acima, o cigarro pode matar. Não falo isso por falar.

O tabaco tem mais de 5.000 produtos químicos diferentes, dos quais dezenas demonstraram ter atividade cancerígena! Fumar aumenta o risco de câncer de garganta de 5 a 25 vezes. Quanto maior o tempo de tabagismo, maior o risco. Mascar o cigarro também aumenta o risco de câncer, em pelo menos 2 a 4 vezes.

Trabalho em um hospital que trata câncer. Já perdi pacientes com as piores doenças. Muitas (a maioria) provocadas pelo hábito de fumar. Dentre os principais cito o câncer de garganta, câncer de laringe, câncer de pulmão e muitos outros.

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É por isso que precisamos conversar sobre o remédio para parar de fumar.

O preconceito contra quem fuma…

Tenho raiva do cigarro. Ele já me tirou muitos pacientes. Não é certo ter esse sentimento com os pacientes (mesmo os que continuam fumando).

Os fumantes são vítimas de uma mercadoria criada para provocar o vício. E por isso que a indústria do fumo tem uma grande participação no mercado atual.

Os meus pacientes costumam tirar dinheiro de onde não tem para conseguir comprar a caixinha de cigarros do dia. E o mercado sabe disso.

O preconceito contra quem fuma só serve para afasta-los do tratamento. Por favor, precisamos tirar o preconceito para dar lugar ao apoio e ajuda.

O remédio para parar de fumar

O melhor remédio para parar de fumar é TER OPINIÃO. Um paciente ex-tabagista me disse isso certa vez. Se conversar com aqueles que pararam de fumar, você vai ver que essa frase se repete.

Não disse que é fácil. Longe disso.

Assuma o comando… Em primeiro lugar, você deve se lembrar que você é dono de si e que consegue parar. Quem fuma deixa o cigarro ficar no comando. Isso está errado. Você deve assumir o comando.

Mais uma vez, não é fácil. Mas é possível e é real. Muitos dos meus pacientes conseguiram parar de fumar e muitos deles estão curados de câncer hoje. A maioria me disse: “para parar de fumar tem que ter opinião, doutor“.

Não espere ter um câncer para parar de fumar. Tenha opinião!

Claro que podemos ajudar. Quem quebra a perna, pode precisar do gesso. Assim como quem para de fumar pode precisar de medidas para contornar a abstinência. Mas assim como o gesso não é para sempre, tais medidas são provisórias. Estou falando da bupropiona, dos adesivos e gomas de nicotina e outras medicações.

Se um hábito ruim pode ser provocado por aquele fator social que falei acima, que tal mudar o ambiente? Conviver com pessoas que estão “no mesmo barco” (os grupos de apoio contra o tabagismo) é um ótimo remédio para parar de fumar.


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Dr João Elias

Dr João Elias

Cirurgião de Cabeça e Pescoço
CRM-GO 26521 | RQE 20037
Hospital do Câncer Araújo Jorge, ACCG
Casado | Cristão | Desenhista

Artigos: 31