Caroço no Pescoço – O que pode ser? Pode ser câncer?

Doutor, apareceu um "caroço no pescoço"! Essa é uma das queixas mais comuns que percebo no consultório. Nem todo caroço no pescoço é câncer, mas todos precisam ser bem avaliados e investigados!

Doutor, apareceu um “caroço no pescoço”! Essa é uma das queixas mais comuns que percebo no consultório. É frequente perceber o medo no olhar dos pacientes com nódulos ou massas cervicais. Afinal, é difundido que nódulos ou massas, em qualquer parte do corpo, podem representar doenças graves, como o câncer.

Entretanto, precisamos nos lembrar de que nem todo nódulo é câncer. O raciocínio deve ir além disso. Uma infinidade de outras patologias não oncológicas podem se manifestar com nódulos cervicais. Uma avaliação minuciosa por profissional qualificado é indispensável para separar o joio do trigo e indicar o tratamento, se necessário.

Se você percebeu um “caroço no pescoço”, o primeiro passo é ficar calmo. Em seguida, procure um cirurgião de cabeça e pescoço para examinar e iniciar a investigação desse nódulo.

Caroço no Pescoço - O que pode ser? Pode ser câncer?

O que pode cursar com Caroço no Pescoço?

Com o objetivo de esclarecer sobre as possibilidades, vou elencar as principais doenças que cursam com “caroço no pescoço”. Lembre-se de que não é necessariamente o seu caso. Para facilitar, separei sete subtipos de doenças de acordo com as estruturas acometidas: pele ou subcutâneo, linfonodos, malformações, tireoide, glândulas salivares, vasos e nervos, dentre outras.

1. Lesões de pele ou subcutâneas

Nossa pele é composta por uma camada de proteção (queratina); glândulas sebáceas que garantem hidratação; anexos como pêlos e cabelos, gordura ou tecido subcutâneo, nervos, vasos e muitas outras estruturas.

Cisto sebáceo – Quando uma glândula sebácea fica obstruída, ela acumula seu conteúdo oleoso (o sebo) e forma o conhecido cisto sebáceo.

Lipoma – As células de gordura podem se acumular e formar nódulos, os conhecidos lipomas.

Os cistos sebáceos e os lipomas são lesões benignas e não se transformam em câncer. O tratamento cirúrgico simples pode ser uma opção.

2. Aumento dos linfonodos (linfonodomegalias)

Em primeiro lugar, o que são os linfonodos, ou gânglios linfáticos? Também conhecidos como ínguas ou landras, os linfonodos são pequenos órgãos espalhados pelo corpo, responsáveis pela imunidade. Eles ajudam na defesa do corpo contra microorganismos invasores. Eles filtram os agentes invasores e armazenam células de defesa.

Doenças infecciosas – Como os linfonodos filtram os agentes invasores, eles ficam inflamados durante os processos infecciosos. Sejam infecções virais, bacterianas ou fúngicas, todas podem gerar aumento dos linfonodos e, portanto, nódulos cervicais. Como exemplos, podemos citar amigdalite, mononucleose, tuberculose, infecções dentárias etc.

Abscesso cervical – Os abscessos cervicais são complicações graves dos processos infecciosos (infecções dentárias ou faringoamigdalites). Trata-se do acúmulo de pus em áreas do pescoço que rapidamente se disseminam. Os sintomas envolvem dor e rigidez cervical. A avaliação por um cirurgião é urgente dada a gravidade dessa doença.

Doenças inflamatórias crônicas – Algumas doenças reumatológicas crônicas, como a sarcoidose, lúpus, artrite reumatoide, psoríase, podem gerar aumento dos linfonodos cervicais.

Reações alérgicas – Reação alérgica é uma resposta exagerada do organismo a algum fator do meio. Por esse motivo, há aumento dos linfonodos.

Linfoma e doenças linfoproliferativas – São doenças malignas que se desenvolvem a partir do sistema imunológico do corpo, gerando aumento dos linfonodos axilares, inguinais e/ou cervicais. É preciso estar atento a outros sintomas, como febre, fraqueza, perda de peso, sudorese, aumento do volume abdominal, cansaço etc. Em casos de linfonodos aumentados por mais de 20 dias associado aos sintomas acima, precisamos investigar e afastar tais doenças.

Metástases – Como os linfonodos são um filtro para o corpo, eles também filtram células tumorais originadas de outros tumores malignos de cabeça e pescoço. Assim sendo, câncer de boca, câncer de orofaringe, câncer de garganta, câncer de laringe… Todos podem cursar com metástases cervicais. Geralmente são aqueles “caroços” endurecidos e pouco móveis.

3. Malformações congênitas

Durante o desenvolvimento do pescoço (lá durante a gestação), ocorrem uma série de acontecimentos nos pouco nove meses até o nascimento! Nesse meio tempo, alguns defeitos do desenvolvimento podem ocorrer.

Cistos branquiais – Durante o desenvolvimento do pescoço, temos o que chamamos de arcos, sulcos e bolsas faríngeas. com o passar do tempo, os sulcos faríngeos regridem na maioria das pessoas. No entanto, em algumas delas, eles permanecem lá. Quando acumula líquido no seu interior, o cisto passa a se comportar como um “caroço no pescoço”.

Cisto do ducto tireoglosso – A tireoide inicia o seu desenvolvimento na língua! Nas primeiras semanas de gestação, ela inicia seu deslocamento para o pescoço. A medida que se desloca, ela forma um canal (o canal tireoglosso). Na maioria das pessoas, esse canal se fecha. Quando ele não desaparece, começa a acumular líquido e forma o que chamamos de cisto tireoglosso. Este, quando inflamado, pode provocar dor, febre e desconforto.

Linfangiomas – Os linfonodos (que vimos acima) são conectados pelos vasos linfáticos. Uma malformação pode provocar dilatação desses vasos e o acúmulo de linfa em seu interior.

4. Doenças da tireoide

Bócio de tireoide – Em alguns casos a tireoide pode formar múltiplos nódulos e aumentar de tamanho, em toda a sua extensão. Como isso leva anos para acontecer, os sintomas tendem a ser insidiosos, mas podem provocar desconforto respiratório e dificuldade para deglutir.

Tireoidites – A inflamação da glândula tireoide também pode provocar uma tumoração no pescoço. Esse inchaço pode ser doloroso ou não.

Nódulos de tireoide – Muitos de nós possuímos nódulos tireoidianos. Felizmente, a maioria são benignos. Um exame de ultrassom bem feito ajuda a direcionar a investigação desses nódulos.

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5. Doenças das glândulas salivares

No pescoço também temos as glândulas salivares, que também podem ser uma fonte de “caroço no pescoço”. Elas se diferenciam em glândulas salivares maiores (parótida, submandibular e sublingual) e menores (espalhadas pelas mucosas da cabeça e do pescoço).

Sialadenite e sialolitíase – Sialadenite é como chamamos a inflamação das glândulas salivares, que pode ser provocada por agentes infecciosos. O “atraso” na liberação de saliva provocado por obstrução do ducto das glândulas por um cálculo (sialolitíase) pode predispor às infecções. Os sintomas geralmente envolvem dor e vermelhidão locais.

Nódulos das glândulas salivares – Assim como as outras glândulas do corpo, as glândulas salivares também podem formar nódulos. Dentre benignos e malignos, temos mais de 70 tipos de doenças das glândulas salivares. Uma investigação com ultrassom, punção para citologia e eventualmente cirurgia podem ser necessários.

6. Lesões dos vasos e dos nervos

Glomus carotídeo – Ainda que raro, existe um tumor neuroendócrino que cresce na bifurcação das artérias carótidas interna e externa. Chamamos de tumor de corpo carotídeo, paraganglioma carotídeo ou glômus. Trata-se de uma lesão vascular benigna na maioria dos casos, mas geralmente tem indicação cirúrgica.

Glômus de nervo vago – Trata-se de outro tumor neuroendócrino, agora localizado no nervo vago. As afecções próximas ao nervo vago podem cursar com rouquidão, já que o nervo vago é responsável pela inervação da laringe (o nosso aparelho fonador).

Schwannoma – Apesar do nome complicado, o Schwannoma nada mais é que um tumor benigno originado das células de Schwann. Essas células formam a bainha que envolve os nervos e ajuda na transmissão dos estímulos elétricos. Qualquer nervo do pescoço pode dar origem a um Schwannoma.

Hemangioma – Trata-se de um tumor benigno que consiste em um crescimento anormal dos vasos sanguíneos.

7. Sarcomas

Os sarcomas são um grupo extenso de doenças malignas que também podem estar presentes no pescoço. Como existem vários tipos, o diagnóstico geralmente é feito pela biópsia (com anatomopatológico) e pela imuno-histoquímica (um estudo mais aprofundado do material obtido na biópsia).

O nome do sarcoma está relacionado ao tecido que ele mimetiza. Por exemplo: liposarcoma (tecido gorduroso); osteossarcoma (osso); condrossarcoma (cartilagem); rabdomiossarcoma (músculo); angiossarcoma (vasos) etc.

Quais os exames utilizados para investigação do “caroço no pescoço”?

Estando diante de um “caroço no pescoço”, o médico pode julgar necessários alguns exames para melhor avaliar as características do nódulo.

Ultrassonografia – O próprio exame de ultrassom pode observar características suspeitas do nódulo estudado.

Punção Aspirativa com Agulha Fina e Citologia – Em caso de um nódulo suspeito, esse procedimento pode ser indicado para retirar um líquido do interior do nódulo. Esse líquido contém células que serão examinadas no microscópio com a finalidade de investigar a presença ou não de malignidade.

Tomografia Computadorizada e Ressonância Nuclear Magnética – Estes exames estão indicados quando é importante avaliar a proximidade entre o nódulo/massa e estruturas nobres como vasos e nervos. Dessa forma, é possível prever o procedimento cirúrgico bem como os critérios de ressecabilidade.

A depender dos achados desses exames, pode ser necessária cirurgia para remover esse “caroço no pescoço”. Seja com finalidade para diagnóstico (biópsia) ou para remoção completa da lesão.

Para concluir…

Veja que são inúmeras doenças que podem se comportar como caroço no pescoço. Felizmente, na maioria dos casos, tratam-se de doenças benignas. No entanto, uma boa avaliação por um cirurgião de cabeça e pescoço capacitado é necessária para diagnosticar e tratar doenças benignas ou malignas!

Repito novamente o que falei acima, se você percebeu um “caroço no pescoço”, o primeiro passo é ficar calmo. Em seguida, procure um cirurgião de cabeça e pescoço para examinar e iniciar a investigação desse nódulo.

Nem todo caroço no pescoço é câncer, mas todos precisam ser bem avaliados e investigados!


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Dr João Elias

Dr João Elias

Cirurgião de Cabeça e Pescoço
CRM-GO 26521 | RQE 20037
Hospital do Câncer Araújo Jorge, ACCG
Casado | Cristão | Desenhista

Artigos: 24