Empatia na Medicina é uma soft skill crucial para transmitir mensagens eficazes sobre um diagnóstico ou tratamento. Para isso precisamos “mergulhar” dentro dos olhos de quem vê, ou seja, nos olhos dos nossos pacientes.
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O Desafio da Empatia na Medicina
Severino, um senhor de setenta e poucos anos, compareceu ao centro de atendimento com tosse sanguinolenta, caquexia e dispneia. Segundo a filha, ele só vem piorando há cinco meses, mas ela só conseguiu trazê-lo hoje, as custas de muita insistência.
Cada passo era seguido por cinco intensas incursões respiratórias entremeadas por acessos de uma sofrida tosse com rajas de sangue. O oxímetro desvendou a saturação longe da desejada e a ectoscopia junto à ausculta pulmonar podiam ser traduzidas em algo do tipo: “Me interne, preciso de suporte”.
Quando discutimos a necessidade de remoção para um serviço de maior complexidade, o tempo fechou. Com voz rouca, fraca e interrompida, Severino murmurou:
“Estou bem… Não quero ir pro Hospital… Pessoas morrem lá”.
Há anos ele observa que seus conhecidos eram internados e não voltavam para casa. Enquanto que outros ficavam “presos” por semanas, sem dar sinais de vida. Se não bastasse, os noticiários enfatizam que as vítimas em estado crítico ficam não em casa, mas nos hospitais. Sem contar que politraumatizados são levados com vida ao hospital, mas logo lá, acabam não resistindo aos ferimentos.
Realmente, pessoas morrem nos serviços de alta complexidade. Mas estão lá justamente por necessidade. Para muitos, pode ser uma relação de causalidade fácil de compreender. Esses pacientes estão nos hospitais porque estão doentes e não estão doentes porque estão nos hospitais.
Mas como explicar para esse senhor que os riscos de ficar em casa, sem suporte ou tratamento, eram maiores que os da internação? À sua maneira, Severino lidava com probabilidade, usando a amostra que tinha e a que importava para ele. Era o seu ponto de vista…
Quem nunca ouviu alguém que se recusa a fazer exames preventivos tendo como argumento a famosa frase “quem procura, acha”? Pré-julgamento, mídia, fake-news, desconfiança, cultura, medo? São muitas variáveis envolvidas na criação de vieses desse tipo. Vieses que precisam ser desconstruídos, dia após dia.
Este é o Desafio da
Empatia na Medicina
Depois de muita conversa, Severino acabou concordando com os procedimentos diagnósticos. Mas será um desafio para cada profissional seguinte mergulhar dentro do ponto de vista desse senhor e transmitir tranquilidade, persuasão e, principalmente, prognóstico!
Então, perfunte-se sempre:
Como exercer Empatia na Medicina?
Veja também
- Costa FDD, Azevedo RCSD. Empatia, relação médico-paciente e formação em medicina: um olhar qualitativo. Rev bras educ med. 2010.